O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade em excesso, que podem interferir no funcionamento e desenvolvimento da criança, adolescente ou adulto. Esses sintomas podem afetar o funcionamento social, emocional, comportamental, acadêmico e cognitivo do indivíduo.
A desatenção é observada em comportamento de procrastinação, falta de persistência, dificuldade em manter o foco e desorganização. A hiperatividade refere-se a comportamentos como: correr, batucar, remexer ou conversar em excesso, mesmo quando em ambientes ou situações em que estes comportamentos são inadequados. A impulsividade é observada em comportamentos quando há desejo de recompensa imediata ou incapacidade de adiar a gratificação.
Crianças com TDAH têm risco aumentado de desenvolver outros transtornos como transtorno de oposição desafiante e transtorno de conduta, assim como problemas acadêmicos, comportamento antissocial e abuso de drogas e álcool. Podem ocorrer dificuldades de aprendizagem, bem como comorbidades com transtornos específicos de aprendizagem, como a Dislexia. Podem, também, apresentar transtornos de linguagem, transtorno de ansiedade, transtorno de humor e tiques.
Prevalência e Diagnóstico
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a prevalência de TDAH é de 5% nas crianças e 2,5% nos adultos. O TDAH é mais frequente no sexo masculino, sendo na proporção 2:1 nas crianças e 16:1 nos adultos. Pessoas do sexo feminino possuem maior probabilidade de apresentar características de desatenção quando comparadas ao sexo masculino.
O diagnóstico do TDAH é clínico, uma vez que não há marcador biológico definido. A literatura aponta para evidência de fatores genéticos, ambientais e psicossociais, havendo, assim, necessidade de equipe multiprofissional como psicólogo, neuropsicólogo, neurologista e/ou psiquiatra. Quando há presença de dificuldades de aprendizagem como consequência do TDAH, torna-se importante a presença de um psicopedagogo/neuropsicopedagogo que realize intervenção adequada, assim como orientação aos pais e à Escola.
Ainda, de acordo com o DSM-5, para que seja feito o diagnóstico são necessários 5 critérios:
Critério A: a presença de, pelo menos, 6 sintomas ou mais de desatenção, ou 6 sintomas ou mais de hiperatividade/impulsividade por, pelo menos, 6 meses (para pacientes de 17 anos ou mais, pelo menos, 5 sintomas são necessários);
Critério B: os sintomas devem se manifestar antes dos 12 anos de idade;
Critério C: deve ocorrer em dois ou mais ambientes (os sintomas não podem ocorrer apenas na escola ou em casa);
Critério D: os sintomas interferem no funcionamento social, acadêmico ou profissional, e/ou reduzem sua qualidade;
Critério E: os sintomas não devem ocorrer exclusivamente no curso de esquizofrenia ou outro transtorno psicótico; também não são mais bem explicados por outro transtorno mental.
Apresentação
O DSM-5 descreve três situações, de acordo com os comportamentos apresentados pelo indivíduo:
– Desatenta: são as crianças e adolescentes que vivem no “mundo da lua”. Podem apresentar um desempenho escolar abaixo da média.
– Combinada (desatenta e hiperativa-impulsiva): muito ativo e impaciente, possui alterações na capacidade de persistir no foco.
– Hiperativa-impulsiva: são os que menos apresentam dificuldades escolares, mas possuem sintomas de impulsividade e hiperatividade.
Tratamento e apoio profissional adequado
O tratamento do TDAH pode ser dividido em quatro importantes eixos:
– Modificação do comportamento;
– Intervenção acadêmico/pedagógico;
– Psicoterapia;
– Terapia farmacológica.
Portanto, é importante que a família busque equipe multiprofissional capacitada e que, assim, possa ser orientada quanto aos tratamentos adequados em cada caso, bem como as estratégias de manejo em casa e na Escola.
Assistência integral ao aluno com TDAH
Como já tratado no texto sobre dificuldades e transtornos de aprendizagem, a Lei 14.254 publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 01/12/2021 institui o acompanhamento integral para educandos com TDAH. O acompanhamento multiprofissional específico deve ser assegurado no caso de instabilidade na atenção que possam repercutir na aprendizagem, além de identificação precoce e apoio educacional (na escola e na Rede de Saúde).
Referências:
ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. dos S. Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016.
DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais. 5. Ed. Porto Alegre:
Transtornos de aprendizagem – uma visão luso-brasileira. Viseu: QualConsoante, 2019.
BENCZIK, E. B. P. TDAH (Transtorno de déficit de atenção/Hiperatividade): desafios, possibilidades e perspectivas interdisciplinares. Belo Horizonte: Artesã, 2020.
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/12/01/sancionada-lei-que-preve-assistencia-integral-a-aluno-com-transtorno-de-aprendizagem. Agência Senado. Acesso em 13 de janeiro de 2021.
Jackeline Malheiros é Doutora em Neurologia/Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo. Pesquisadora, Psicopedagoga, Neuropsicopedagoga, Bacharel em Física Médica e Graduanda em Psicologia. Professora de cursos de pós-graduação. Ministra palestras sobre temas que envolvem Neurociências, desenvolvimento humano e educação.
