Dislexia

A Dislexia é um transtorno específico de aprendizagem, de origem neurológica, com prejuízo na aquisição e no desenvolvimento da leitura e escrita, uma vez que o indivíduo apresenta dificuldades na fluência, precisão e/ou compreensão da leitura. As dificuldades já podem ser percebidas no início da alfabetização e podem comprometer a aquisição da leitura, escrita e ortografia. O desempenho do indivíduo com Dislexia na habilidade de leitura e escrita encontra-se abaixo do esperado para a sua idade cronológica e escolarização.

Estudos com a utilização de neuroimagem mostram diferenças no desenvolvimento e funcionamento cerebral de indivíduos com Dislexia; e estudos genéticos indicam fator hereditário, ou seja, há maior probabilidade quando há histórico familiar de Dislexia.

O diagnóstico de Dislexia não é algo simples de ser realizado!

Para a realização do diagnóstico da Dislexia é importante a atuação de equipe multidisciplinar. A equipe pode ser formada por fonoaudiólogos, psicólogos, neuropsicólogos, psicopedagogos/neuropsicopedagogos e, até mesmo, profissionais de áreas médicas como psiquiatria e neurologia. Podem ser necessários exames de processamento visual e auditivo, audiometria, bem como exames neurológicos. Toda esta avaliação é importante para descartar outras possíveis causas do prejuízo na habilidade da leitura.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), as dificuldades apresentadas pelo indivíduo com Dislexia não podem ser explicadas pela deficiência intelectual, por alterações visuais e auditivas, por outros transtornos neurológicos, por métodos pedagógicos ou escolaridade inadequados, ou por questões sociais e emocionais.

A Dislexia diagnosticada de maneira precoce diminui as chances de sofrimento com dificuldades de aprendizagem, assim como, problemas emocionais. A Dislexia pode impactar a vida emocional e social do indivíduo com sentimentos de medo, insegurança e baixa autoestima. Logo, a Dislexia pode vir acompanhada de comorbidades como a depressão e a ansiedade.

A Dislexia pode estar associada a outras comorbidades como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), e com outros transtornos de aprendizagem como a Disortografia, Disgrafia e Discalculia.

Manifestações ao longo do desenvolvimento

Algumas manifestações podem ocorrer ao longo do desenvolvimento, assim, observam-se:

Educação Infantil (0-6 anos):

– Lentidão nas habilidades da fala e linguagem expressiva;

– Dificuldades em atividades que requerem habilidades metafonológicas (como separação de sílabas ou rimas);

– Dificuldades para reconhecer letras e lembrar palavras.

Período escolar:

– Desempenho abaixo do esperado em atividades de consciência fonológica (habilidades metafonológicas);

– Dificuldades na nomeação rápida;

– Dificuldades em aprender a ler e escrever;

– Baixo rendimento em memória fonológica de curto prazo;

– Dificuldades para aprender sequências como dias da semana e meses do ano;

– Dificuldades para aprender outros idiomas;

– Dificuldades na matemática; porém, não no desenvolvimento do cálculo; mas, sim, em alguns casos na compreensão dos problemas.

Vida adulta:

– Há tendência de leitura lenta; porém, podem ser capazes de ler de maneira adequada;

– Dificuldades ortográficas e na produção de textos;

– Dificuldades para aprender outros idiomas.

Profissionais adequados, família e escola.

O indivíduo com Dislexia necessita de equipe multidisciplinar para diagnóstico e tratamento. É importante que esta equipe esteja em contato direto e mantenha parceria com a escola para orientação dos professores, assim como a realização de um suporte à família. A família também possui papel importante no engajamento na intervenção e no apoio emocional.

Atitudes dos professores frente ao aluno com Dislexia.

Os professores devem apoiar as crianças e adolescentes com Dislexia por meio de atenção, encorajamento e supressão de quaisquer dúvidas. Assim, recomenda-se que a criança ou adolescente com Dislexia sente-se perto do professor, a fim de facilitar o processo de elucidação de dúvidas. O material oferecido pelo professor para leitura  deve estar de acordo com o nível leitor do indivíduo com Dislexia. Auxiliar no processo de melhora da autoestima por meio do destaque de seus pontos positivos em trabalhos e avaliações. Evitar a leitura para a sala toda, para que não se sinta constrangido ou, caso seja necessário, que tenha tempo hábil para preparo da leitura em casa. É importante que o professor compreenda que o processo de leitura para um indivíduo com Dislexia requer um esforço maior que o habitual e que isso não se dá devido à preguiça ou falta de esforço. Desta forma, é imprescindível que o professor não exponha o aluno; e que a escola não permita este tipo de comportamento tanto por professores, como por outros alunos.

Assistência integral ao aluno com Dislexia.

Como já tratado no texto sobre dificuldades e transtornos de aprendizagem, a Lei 14.254 publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 01/12/2021 institui o acompanhamento integral para educandos com dislexia, prevê identificação precoce, apoio educacional (na Escola e na Rede de Saúde) e acompanhamento multidisciplinar.

Referências:

ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. dos S. Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2016.

DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais. 5. Ed. Porto Alegre: Artmed; 2014.

CHIARAMONTE, T. C.; CAPELLINI, S. A. Relação ortografia e habilidades do processamento fonológico na dislexia do desenvolvimento. Curitiba: CRV, 2019.

Transtornos de aprendizagem – uma visão luso-brasileira. Viseu: QualConsoante, 2019.

https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/12/01/sancionada-lei-que-preve-assistencia-integral-a-aluno-com-transtorno-de-aprendizagem. Agência Senado. Acesso em 13 de janeiro de 2021.